02 janeiro 2011

GANHAR OU PERDER

Duas faces têm as moedas – cara e coroa – como as designamos.

As palavras escolhidas para título desta reflexão são, cada uma, cara e coroa de si mesmas, conforme o sentido em que as usamos.

Ora comecemos com «ganhar», que pode ter uma carga positiva ou negativa. Ganha-se a coragem, a confiança, o afecto, o conhecimento, a experiência; ganham-se os bens materiais, ganha-se a vida, ganha-se o dia quando algo corre conforme o nosso desejo, ganha-se tempo, até o tempo, a mais escorregadia das medidas que o homem crê dominar…Ganhar! Mas também ganhamos manias, suspeições, indiferença, vícios, inimigos, raiva, às vezes um capital de raiva tão milionário que temos de o aliviar descarregando-o como podemos (quase sempre como não devemos!) e, assim, «desperdiçamos» esse ganho negativo que fomos acumulando.

Perder, também pode ter um significado de coisa valiosa: perder o medo, perder certos hábitos e paixões, perder peso, quando o espelho e a balança, aliados a nosso favor, nos dão um sinal de alerta. A lista de perdas de cariz negativo é quase infindável. Podemos começar pelo tempo que, bem sabemos, não nos pertence, mas que sempre clamamos porque o perdemos. E perdemos, no jogo da vida, parentes, amigos, referências, a saúde, às vezes as estribeiras e, com elas, a razão. Estas são perdas de vulto. Mas «perder» é verbo quotidiano, sempre a jeito, usado a torto e a direito, sem discernirmos, a fundo, se, quando dizemos «perdi», não seria mais justo dizermos «ganhei».

Não esvaziámos, nem esse era o objectivo, o sentido de ganhar e de perder. Há tantas outras formas de abordar o significado destes dois verbos, que nos parecem pólos opostos, mas que mais não são que um só conceito, quando entendidos de trás para a frente e da frente para trás, isto é, quando volteamos a moeda…

Acabámos de perder (ou ganhar?) um ano velho, com as suas vicissitudes, as próprias de todos os anos, com dias luminosos, outros de bruma.
Acabámos de ganhar um tempo novo, mais uma sucessão de dias que colocamos num calendário circular e que se fechará num outro dia de São Silvestre.
Chamamos-lhe, agora, Ano Novo. Com ele reafirmamos a esperança de entendermos melhor quando ganhamos, mesmo que os dias escuros nos queiram convencer de que perdemos.

Maria Amélia Vasconcelos
Texto publicado no jornal interno da S.C.da M.do Cartaxo.