Haverá, por certo, quem não aprecie flores. Gostos e interesses não se discutem, obviamente. No que me toca, não conheço ninguém que não goste de plantas, seja pelo seu porte, pela folhagem, pelas flores ou pelos frutos. Isto tanto vale para as espontâneas como para as cultivadas, sujeitas, estas, a melhoramentos genéticos, a tratamentos científicos e a cuidados de quem sabe do que está a tratar ou, melhor ainda, a desvelos de quem as estima, deveras.
As plantas são um produto transacionável, como qualquer outro. As flores constituem um negócio em alta, particularmente em certas épocas do ano.
No outono passado, necessitei de comprar uma rosa branca, em memória de um ente querido. Entrei numa florista, pela manhã, e não vi exposto o que pretendia. Ainda assim, perguntei à vendedora se tinha rosas brancas. Respondeu-me que talvez tivessem acabado de chegar e apontou-me uma meia dúzia de caixas de cartão, com cerca de um metro de comprimento, empilhadas atrás do balcão. Começou a abrir as embalagens e ia pondo a descoberto molhos, bem atados, de flores. A terceira ou quarta caixa continha um molho de rosas brancas, com caules grossos e longos.
Enquanto foi decorrendo a busca, fomos conversando. Fiquei a saber que as flores tinham chegado ao aeroporto de Lisboa naquela mesma madrugada e que estavam a ser distribuídas, àquela hora, por várias lojas, pelo país fora.
Esta informação fez-me pensar, de imediato, na ilha da Madeira, a pátria das flores portuguesas, desde as mais comuns às mais exóticas. Para confirmar o que julgava ser um facto, lancei um olhar à tampa da caixa, pousada sobre o balcão. Com espanto vi as etiquetas que revelavam que a encomenda fora enviada da Colômbia. Retomei o diálogo, à espera que me fosse dito que vira mal, que o produto era nacional e que «Colômbia» era uma marca, ou o nome de uma estufa, enfim, qualquer coisa que me levasse a descrer estar perante uma importação de tão longínquas paragens. A Holanda estaria no meu horizonte de expetativas pois já comprei muitas flores criadas nos Países Baixos, mesmo antes da União Europeia. Mas, a Colômbia? Rosas, assim, tão fora do meu entendimento?
A rosa saiu, magnífica, das mãos da florista, salpicada de verdura, fresca como se tivesse sido colhida ainda há instantes.
Eu pergunto-me qual terá sido o custo verdadeiro daquela rosa, qual o valor dos salários pagos a quem trabalha nas estufas da Colômbia… Pergunto-me mais: quanto custa, em termos da qualidade do ar que respiramos e dos recursos naturais, transportar rosas da América para a Europa, não o preço de uma rosa, é claro, mas, por extensão, quanto custam as toneladas de produtos que poderíamos obter mais perto…
O meu rol de questões é longo. E ocorre-me sempre mais uma, ou outra, quando sigo o rasto de um qualquer avião de longo curso, dos muitos que cruzam os céus de Portugal.
Maria Amélia de Vasconcelos
Texto publicado no jornal da S. C. da M. do Cartaxo.