Aos domingos no cacimbo
Floriam os baloiços da cidade.
As crianças e os pais
-tinham todos a mesma idade-
indo e vindo baloiçando
riscavam de corpo aberto
a claridade do meio dia.
Jardim das Barrocas, no Miramar
perto a baía era uma clareira
líquida a cintilar
o solo tecido pelas raízes
dos cascos dos navios ancorados.
Parque Heróis de Chaves
jardim cintado de verdura.
Na pausa serena pelas tardes
recebido o pão de ternura
os cisnes se recolhiam.
Riam os pêndulos em coro
seu cantar afinado com os petizes
corolas em hastes de vento
ritmado balançar.
Na Ilha o parque dos animais
o mais plano e singular
entre a areia e o coqueiral.
Era tempo de partilha
local da lisa simplicidade
a troca linear numa língua comum.
Os bichos e a garotada um riso igual
juntam a terra e o céu
convocam o mar ali ao lado.
É o círculo que se quer fechado
com o alvor da primeira estrela
que venha confirmar
que o dia do Senhor
no tempo do cacimbo
se finda a baloiçar.
Maria Amélia de Vasconcelos
Palavras Roladas é um espaço de simples reflexão acerca das palavras que usamos na linguagem de todos os dias e, porventura, de outras, menos gastas, quando convier. As imagens visuais hão-de infiltrar-se, seguras da sua eficácia. Palavras roladas, como os seixos que o vento e o movimento das águas afeiçoaram, como frutos. Então, os olhos encontram-nos e a mão recolhe-os e aquece-os um momento para, mais além, os devolver à praia onde outros olhos e outras mãos os hão-de descobrir e dar calor.
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