Escrevo no rescaldo dos Jogos Olímpicos de Londres.
O país anfitrião não poupou esforços para que todo o espetáculo, que o desporto também o é, fosse grandioso, independentemente das marcas alcançadas, da euforia dos ganhadores ou do desânimo dos que não atingiram os objetivos que se propunham.
Aos Jogos Olímpicos só vão os melhores pelo que, estar presente e participar, é, por si só, um prémio ao alcance de muito poucos. Cada um dos que aí chega é, sem mais, um vencedor.
Portugal levou a Londres atletas com excelentes marcas e coube-lhe subir ao pódium, uma vez, nas pessoas de dois jovens canoístas que alcançaram a medalha de prata na respetiva modalidade.
Para além desta vitória, foram vários os desportistas a quem foram conferidos diplomas por terem atingido lugares cimeiros nas competições.
No conjunto, Portugal teve uma presença digna nestes Jogos, tendo em conta que, por detrás de cada participação está um trabalho de anos, sem pausas nem distrações, com a dedicação de quem é «amador», isto é, de quem ama o que faz e luta por melhorar o seu desempenho. São treinos aturados, de muitas horas diárias, sem tempo para a família ou para a diversão com os amigos, em que não há folgas nem, por vezes, para o necessário descanso. Um atleta tem de ser senhor de uma vontade férrea e de uma auto-disciplina que não ceda à comodidade e ao prazer.
Isto que aqui deixo registado é do conhecimento geral.
Mas, exatamente, por serem por demais conhecidas as exigências a que se submetem os desportistas de alta competição, é que eu me indignei, por ouvir e ler, nos meios de comunicação social, um comentário leviano, para não dizer malévolo, à participação portuguesa nas Olimpíadas deste ano. Alguém comentou, e outros fizeram eco, que, contas feitas aos custos com a presença em Londres, nunca uma medalha ficara tão cara ao país. Será com critérios economicistas que se avalia o desporto? Somos, assim, tão pobres de valores que o mérito desportivo, ou de qualquer outra área, do conhecimento ou da arte, tem de ser reduzível a dinheiro? Porque é que, entre nós, há-de sempre ouvir-se uma voz a amesquinhar um feito que a todos deve honrar, comparando-o a uma mera folha de «deve» e «haver»?
Trata-se de uma pequenês nacional, sem remédio? Tenho fé que não!
Quem dera que vão despontando jovens que invistam no desporto, por oposição ao sedentarismo – com o seu cortejo de hábitos indesejáveis – que é prevalecente na nossa sociedade.
A escola tem desempenhado um papel relevante no sentido de estimular a prática da educação física e do desporto. Disseram-me, contudo, que os novos programas retiram carga horária à disciplina. Sendo isto verdade, e espero estar mal informada, a educação sai prejudicada nos seus objetivos mais amplos: formar cidadãos aos quais se possa, com propriedade, aplicar a máxima: «mente sã em corpo são».
Maria Amélia de Vasconcelos
Texto publicado no jornal da S. C. da M. do Cartaxo