Retirou-se o mar
em recuos de água morna
levemente
para não despertar
ecos nos búzios antigos
vigilantes
das marés.
Marcou a sua líquida forma
impressão digital
bordada em orlas
no areal.
Calou a música das ondas
e o grito gutural
das gaivotas esmoreceu
na praia vazia.
Ficámos nós
apenas nós
revestidos de bruma
e maresia
à janela da vazante
no declinar do dia
com as palavras impronunciadas
amarradas na voz.
Ainda agora, que dizias
nesse sibilar murmurante
que não sei decifrar?
Era mar? Amar?
Nesse instante
contavas uma história?
Cantavas uma ladainha?
Soam sempre tão esguias
as falas de conversar
quando a noite se avizinha…
Maria Amélia de Vasconcelos
Agosto de 2012
Palavras Roladas é um espaço de simples reflexão acerca das palavras que usamos na linguagem de todos os dias e, porventura, de outras, menos gastas, quando convier. As imagens visuais hão-de infiltrar-se, seguras da sua eficácia. Palavras roladas, como os seixos que o vento e o movimento das águas afeiçoaram, como frutos. Então, os olhos encontram-nos e a mão recolhe-os e aquece-os um momento para, mais além, os devolver à praia onde outros olhos e outras mãos os hão-de descobrir e dar calor.
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