Um objecto e o nome pelo qual o
mesmo é conhecido partem de necessidades diversas, porém inseparáveis. O nome
surge depois, para definir o objecto, no seio do universo de falantes da mesma
língua; acrescentar-lhe o que seja, pode torná-lo um pleonasmo, por vezes
anedótico.
O nome atribuído a um local
forma-se, frequentemente, a partir das condições naturais desse mesmo local,
quer se trate de um monte, de um vale ou cova, de um rio ou riacho, de uma
floresta ou de uma árvore. Na nossa língua, muitas localidades devem a sua designação à respectiva situação
geográfica, o lugar onde, por comodidade ou por defesa contra inimigos, se
agregou o primitivo núcleo populacional. Também é comum encontrarmos, em
Portugal, povoações cujos nomes radicam em equipamentos atribuídos a habitantes
mais remotos. É o caso de designações como: ponte, moinho, castelo, torre,
porto, vila, e tantos outros.
No traçado interno das povoações
– ruas, travessas, becos, escadas – a necessidade de marcar com um nome o sítio
de residência, ou de um qualquer prédio, é evidente. O mais comum,
modernamente, é dar a esses elos da malha urbana nomes de personalidades
relevantes, nomes de outros países ou das suas capitais ou datas importantes na
História nacional ou local.
É um estudo interessante
verificarmos, numa povoação, a permanência ou a alteração da toponímia, num
determinado período.
Nos assentos paroquiais do
Cartaxo do último quartel do século XIX – consultados em razão de outras
pesquisas – encontrei nomes de arruamentos que ainda se mantêm. O adro da
igreja paroquial, em 1877, era, indiferentemente, designado por «adro» ou por
«praça de São João Batista», hoje Largo de São João Batista. É abundante a
alusão à rua de São Sebastião, à Ribeira (já não «Cartaxinho»), ao Valverde –
território extenso onde havia vinhas e olivais - , ao Gil, ao Algar, à
Boavista, à rua Velha, entre outros locais que ainda são conhecidos pelos
nomes, a par de outros, os oficiais. No espaço alargado do Valverde, cortado
por várias artérias, houve que encontrar uma toponímia que as identificasse nos
nossos tempos.
Pela análise dos assentos
paroquiais, descobrimos algumas das atuais ruas, agora «rebatizadas», cujos
antigos nomes alguns ainda recordarão. Como exemplos, vejamos os que se seguem:
rua do Carril / rua Serpa Pinto; rua d’Além / rua José Ribeiro da Costa; rua
Direita / rua Mouzinho de Albuquerque; rua do Jogo de Baixo / rua Dr. Júlio
Montez; rua dos Casais / rua 5 de Outubro; rua da Carreira / rua Batalhoz.
Também há referências à Praça Nova que, presumo, será a atual Praça 15 de
Dezembro, a qual todos os cartaxenses conhecem como «Largo da Praça» ou,
simplesmente, «Largo».
Entre os nomes que não mudaram
nestes quase cento e cinquenta anos, destaco a travessa do Nogueira, a travessa
do Gil, a rua (?) das Palhoças e a rua (?) do Cardador, para além da já citada
rua de São Sebastião, onde existiu a capela de estilo manuelino, de evocação
deste Santo protetor dos leprosos, na saída do Cartaxo em direção de
Santarém.
Não me é possível localizar, no
atual traçado urbano do Cartaxo, o casal do Barbosa nem o casal da «Gocharia».
O mesmo se passa com a travessa dos Sapos e…imagine-se, a rua das Malucas! Em
tais sítios, de nomes tão pouco apresentáveis, nasceram, tiveram morada ou
faleceram, em tempos não muito recuados, cidadãos cartaxenses.
Quando, com a República, foi
criado o Registo Civil, não custa a crer que esses cidadãos sentissem algum
incómodo ao terem de declarar a morada.
Ou porque a toponímia mudou, ou
porque se destruíram caminhos para dar lugar a ruas, o certo é que, que me
conste, tais denominações desapareceram. Quem delas, hoje, se lembrará?
Contudo, são História e, como tal, vo-las entrego.
Maria Amélia de Vasconcelos
Maria Amélia de Vasconcelos
Texto publicado no jornal da S. C. M. do Cartaxo.
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