Falta apenas gravar
o poema
o altíssimo poema
alçado acima da cordilheira
tão íntimo e fundo
que só a candeia
da lua ousará
soletrá-lo ao mundo.
Falta o poema
sempre haverá de faltar
enquanto a voz recolhida
não encontrar medida
para o proclamar
à relva rasteira
ao fruto maduro
à mudez do cisne.
Enquanto se escreve
só se vive por dentro
entre o caos do sentimento
do som distorcido
do ar sem vibração
das letras libertárias
alheadas da regra
que as palavras lhes dão.
Se o turbilhão não aquietar
em valsa lenta contido
o sentir não tem motivo
morre o botão por abrir
seca o poema por florir
e as palavras se as houver
também elas vão morrer
à procura de sentido.
Maria Amélia de Vasconcelos
27-02-2015
Maria Amélia de Vasconcelos
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