Uma das palavras mais roladas da nossa língua, o ponto, pode conter uma imensidade de significados.
Em termos geométricos, «ponto» é uma figura sem dimensões, uma abstracção, um quase nada. Serão necessários muitos pontos, encostadinhos, para se iniciar uma linha. E seriam necessárias muitas linhas, de escrita, bem entendido, para destacarmos, um a um, todos os valores que atribuímos à palavra ponto.
Falaremos, pois, tão somente, de alguns, em jeito de pincelada solta, de modo a que os leitores recordem outros usos desta palavra, enriquecendo, assim, o rol de significados.
Como para tudo há sempre um ponto de partida, podemos começar pelo ponto de exame, o teste, como agora é mais corrente dizer-se. Esse ponto é um questionário a que os alunos têm de responder, com maior ou menor grau de correcção. Depois de avaliado o teste, o resultado será expresso em pontos.
Se o tema for a doçaria – compotas, geleias, doces de espécie – os mestres precisam de obter, para cada especialidade, o ponto adequado do açúcar para que a receita saia bem. Estando o ponto no seu máximo, designa-se ponto de rebuçado, uma expressão que utilizamos mesmo quando não é de coisas doces que estamos a tratar.
Na costura e nos bordados, então, é um nunca mais acabar de pontos. O cheio, de sombra, atrás, de luva, de cruz, de cadeia…Um dos mais comuns é o ponto-pé-de-flor, título, também, de um romance. Sendo muito simples, ensinava-se, na infância, às meninas e, apesar do nome, servia para preencher muitos outros desenhos, que não só as hastezinhas das flores.
Considerando a palavra escrita, entendemo-nos todos melhor se usarmos pontuação. As ideias tornam-se mais claras com a ajuda de pontos. E, quando o texto se destina a «bom entendedor», juntamos três pontinhos a uma frase, chamamos-lhes reticências, e a conversa fica concluída.
Na linguagem oral, em discussões mais ou menos acaloradas, já ouvimos, decerto, alguém proclamar que o seu ponto de honra é tal…e tal…
Nos locais de trabalho, os funcionários marcam o ponto, entrada e saída, no relógio de ponto para que não seja posta em causa a sua «pontualidade».
Não nos podemos esquecer – seria falta imperdoável – do ponto do teatro. Até há uns anos, o teatro declamado, por causa da fidelidade ao texto, e sendo verdade que os actores também podem ter perdas de memória em cena , socorria-se de um trabalhador imprescindível. Com a peça à sua frente, metido num espaço minúsculo, à boca de cena ( a caixa do ponto), o ponto ia lendo, com um ligeiro avanço, as falas que competiam a cada personagem. Hoje, mercê das tecnologias áudio, tal profissão já não existe.
Em compensação falamos, agora de um ponto novo, o ecoponto, local onde devemos depositar os resíduos que produzimos para que possam ser reciclados.
Enfim, estando a ponto de terminar estas congeminações, resta-me reiterar que o nosso ponto de encontro se manterá, aqui, nas Palavras Roladas, mas, sem data marcada. Ora aí é que bate o ponto: o local é certo, o calendário variável. Ponto final.
Maria Amélia de Vasconcelos
Excerto do texto publicado no jornal interno da S.C.da M.do Cartaxo.