Eram ratos suspensos
os frutos do embondeiro
túrgidos da seiva
do desmedido celeiro
que os sustinha.
A garça vinha saciada
mirava ainda o pesqueiro
a asa leve afagando
a camurça dos frutos.
Quando o derradeiro
fulgor do sol
revestia de prata
o corpo do embondeiro
era chegada
a hora da transmutação.
Então fruto e garça a par
são vela a arder
e flor a desabrochar
liturgia e oração
entre a gase do dia
e a dobra da noite
derramada pelo chão.
Maria Amélia de Vasconcelos
Palavras Roladas é um espaço de simples reflexão acerca das palavras que usamos na linguagem de todos os dias e, porventura, de outras, menos gastas, quando convier. As imagens visuais hão-de infiltrar-se, seguras da sua eficácia. Palavras roladas, como os seixos que o vento e o movimento das águas afeiçoaram, como frutos. Então, os olhos encontram-nos e a mão recolhe-os e aquece-os um momento para, mais além, os devolver à praia onde outros olhos e outras mãos os hão-de descobrir e dar calor.
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