14 junho 2014

CAMINHADAS

Serra de Aire e Candeeiros
Há convites que são irrecusáveis.
Convidam-nos para passear, visitar um paraíso natural, e rejeitamos tal convite? Não creio que alguém o faça, a não ser que tenha prazos ou compromissos a cumprir, doença súbita, ou aqueles «motivos e força maior» que podem significar um «não» rotundo que se quer fazer passar por uma recusa polida.
Nesta primavera convidaram-me para uma caminhada na serra de Aire e Candeeiros. Foi uma jornada em cheio, abençoada por uma temperatura amena.
Tratou-se de subir um troço da serra em grupo, um simpático grupo do qual fazia parte o casal amigo que se lembrou de que também eu haveria de gostar do desafio. E não se enganou, é claro, pois enchi os olhos e a alma daquela beleza tranquila e, ao mesmo tempo, majestática, que têm os lugares que a mão do homem toca com cuidados fraternos, para não estragar o que é perfeito.
No sopé, ao redor da última aldeia, o candeio das oliveiras era exuberante; milhares e milhares de flores miudinhas, cor de marfim, quase a ponto de se tornarem frutos. Por todo o lado, flores e mais flores. O tomilho competia, a espaços, com orquídeas autóctones de pouco mais de um palmo de altura. Entre pedras, beneficiando de algum veio de água que não se deixava perceber, as madressilvas encarregavam-se de perfumar o ambiente, juntamente com outras espécies vegetais de que desconheço os nomes científicos ou, sequer, as «alcunhas» populares.
O esforço da subida, que não foi coisa menor, confesso, teve o seu prémio: uma vista ampla, escalonada, com casinhas de presépio anichadas em conchas de terreno, e um horizonte largo, a diluir-se no cinzento da distância. A paisagem é, como costuma dizer-se, de tirar o fôlego, expressão que, verdadeiramente, não posso – não deveria – utilizar aqui, pois, «sem fôlego» era já a minha condição, a «lanterna vermelha» dos caminhantes.
Esperavam-nos, ainda, outras boas surpresas lá no cimo. No alpendre de uma casinha de pedra (moderna) estava montado um tear de alto liço, com diversos materiais disponíveis para quem quisesse aprender a tecer.
A serra de Aire e Candeeiros, predominantemente calcária, esconde  maravilhas no seu seio, grutas que  atraem, no bom tempo, muitos turistas, nacionais e estrangeiros.
Estes caminhantes puderam, também, visitar uma gruta em forma de galeria de dimensões modestas, pequena amostra do muito que os espeleólogos já estudaram. Não tem luzes nem efeitos espectaculares, pelo que está muito preservada, e assim deverá continuar. No seu interior existe um cilindro oco, espécie de poço, que pode descer-se em rapel, uma meia dúzia de metros, ou pouco mais, feitos com toda a segurança, pois os responsáveis, pessoas preparadas, com anos de treino, não descuram nenhum pormenor. Descer em rapel é uma experiência que nunca tinha tido e que me agradou muito, a ponto de considerar que fiquei cliente.
Terminando, lembrarei, agora, o que todos sabemos: quando se realizam esforços físicos é preciso restaurar o corpinho. Por isso, as actividades findaram com um excelente almoço servido na sede de uma associação que tem como missão preservar o património natural e cultural da região.
Pareceu-me gente determinada, que vai em frente na senda que se propõe seguir. É a caminhada destas  mulheres e destes homens. Que não lhes falte o fôlego.

Maria Amélia de Vasconcelos
Texto publicado no jornal da S. C. M. do Cartaxo.

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