Serra de Aire e Candeeiros |
Convidam-nos para passear, visitar um
paraíso natural, e rejeitamos tal convite? Não creio que alguém o faça, a não
ser que tenha prazos ou compromissos a cumprir, doença súbita, ou aqueles
«motivos e força maior» que podem significar um «não» rotundo que se quer fazer
passar por uma recusa polida.
Nesta primavera convidaram-me para uma
caminhada na serra de Aire e Candeeiros. Foi uma jornada em cheio, abençoada
por uma temperatura amena.
Tratou-se de subir um troço da serra em
grupo, um simpático grupo do qual fazia parte o casal amigo que se lembrou de
que também eu haveria de gostar do desafio. E não se enganou, é claro, pois
enchi os olhos e a alma daquela beleza tranquila e, ao mesmo tempo,
majestática, que têm os lugares que a mão do homem toca com cuidados fraternos,
para não estragar o que é perfeito.
No sopé, ao redor da última aldeia, o
candeio das oliveiras era exuberante; milhares e milhares de flores miudinhas,
cor de marfim, quase a ponto de se tornarem frutos. Por todo o lado, flores e
mais flores. O tomilho competia, a espaços, com orquídeas autóctones de pouco
mais de um palmo de altura. Entre pedras, beneficiando de algum veio de água
que não se deixava perceber, as madressilvas encarregavam-se de perfumar o
ambiente, juntamente com outras espécies vegetais de que desconheço os nomes
científicos ou, sequer, as «alcunhas» populares.
O esforço da subida, que não foi coisa
menor, confesso, teve o seu prémio: uma vista ampla, escalonada, com casinhas
de presépio anichadas em conchas de terreno, e um horizonte largo, a diluir-se
no cinzento da distância. A paisagem é, como costuma dizer-se, de tirar o
fôlego, expressão que, verdadeiramente, não posso – não deveria – utilizar
aqui, pois, «sem fôlego» era já a minha condição, a «lanterna vermelha» dos
caminhantes.
Esperavam-nos, ainda, outras boas
surpresas lá no cimo. No alpendre de uma casinha de pedra (moderna) estava
montado um tear de alto liço, com diversos materiais disponíveis para quem
quisesse aprender a tecer.
A serra de Aire e Candeeiros,
predominantemente calcária, esconde maravilhas no seu seio, grutas que atraem, no bom tempo, muitos turistas,
nacionais e estrangeiros.
Estes caminhantes puderam, também, visitar
uma gruta em forma de galeria de dimensões modestas, pequena amostra do muito
que os espeleólogos já estudaram. Não tem luzes nem efeitos espectaculares,
pelo que está muito preservada, e assim deverá continuar. No seu interior
existe um cilindro oco, espécie de poço, que pode descer-se em rapel, uma meia
dúzia de metros, ou pouco mais, feitos com toda a segurança, pois os
responsáveis, pessoas preparadas, com anos de treino, não descuram nenhum
pormenor. Descer em rapel é uma experiência que nunca tinha tido e que me
agradou muito, a ponto de considerar que fiquei cliente.
Terminando, lembrarei, agora, o que
todos sabemos: quando se realizam esforços físicos é preciso restaurar o
corpinho. Por isso, as actividades findaram com um excelente almoço servido na
sede de uma associação que tem como missão preservar o património natural e
cultural da região.
Pareceu-me gente determinada, que vai em
frente na senda que se propõe seguir. É a caminhada destas
mulheres e destes homens. Que não lhes falte o fôlego.
Maria Amélia de Vasconcelos
Texto publicado no jornal da S. C. M. do Cartaxo.Maria Amélia de Vasconcelos
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