Meados de março, um tempo atmosférico risonho, com anúncios
de primavera a pedirem roupas mais leves de dia, porque, de noite, o friozinho
continua, na medida certa, como manda o calendário.
Este terceiro mês do ano concentra muitos «dias de». Já se
comemorou o Dia da Mulher que, infelizmente, ainda faz sentido destacar, tamanha é a desigualdade de
género que se verifica no tratamento
menorizante, quando não desumano, de que a mulher é vítima, todos os
dias, em vários pontos do globo, num qualquer ponto perto de nós.
O Dia do Pai, 19 – dia de São José – homenageia os homens que
geraram amor e gratidão naqueles que criaram e educaram, sejam, ou não, pais
biológicos. Quando o não são, e dão exemplos de vida e de amor,
mais merecedores, ainda, de serem lembrados com carinho.
No próximo dia 21 começa oficialmente a primavera ( se ela
quiser, bem entendido). Para o mesmo dia estão
marcadas duas comemorações: o Dia Mundial da Floresta e o Dia Mundial da
Poesia. Temas tão
díspares, na mesma data? Pode parecer que sim, à primeira vista. No
entanto, os conceitos andam ligados
através da origem semântica da palavra «poesia»
que significa «a criação, o fabrico, a invenção». Mas, então, a floresta
pode ser criada, fabricada, inventada? A resposta é sim. O homem
que desmatou vastas áreas sem saber que punha em risco a
biodiversidade e o equilíbrio natural, ou, já sabendo do alcance negativo
dessas ações, tem persistido em as manter, a troco de vantagens económicas
imediatas e egoístas, é chamado, em nome do bem comum, à reinvenção da
floresta, com as espécies autóctones, plantadas e cuidadas de acordo com as
diretivas internacionais elaboradas cientificamente. Há acordos firmados entre
países nesse sentido, alguns cumpridos ou em vias de cumprimento, outros
ignorados, porque não são lucrativos a curto prazo. A percentagem das áreas
desmatadas tem vindo a cair, mas de forma tímida, ainda. É um primeiro passo do
esforço empreendido pela ONU que criou esta comemoração em 1971, adotada, desde
1972 em muitos países. Até ao final do século XX multiplicaram-se as campanhas
esclarecedoras que começam agora a produzir alguns resultados.
No dia 22, o dia seguinte, comemora-se o Dia Mundial da Água,
também uma iniciativa da ONU, de 1992, visando incutir nos habitantes do
planeta em geral, e nos decisores políticos, em particular, a ideia de que a
água potável – aquela que o ser humano pode usar na sua alimentação – é um bem
muito escasso e que tem de ser bem gerido e acautelado. Há populações que
morrem à fome por não terem água: Em consequência, emigram massivamente em
busca do que lhes falta. Deslocam-se nas mais degradantes condições, invadindo
outras regiões onde, quase sempre, são
mal acolhidas. As campanhas
assentam na ideia humanitária de que o direito à água é o direito à vida. De
toda a água existente na Terra, apenas 0,008% é potável. Esta diminuta
percentagem mostra bem o cuidado que tem de ser posto neste bem, que é preciso
que chegue a todos e que não pode ser detido apenas por alguns.
Nos dias 21 e 22 estamos a comemorar um triângulo de
interesses vitais e de benfazejas intenções que tocam a todos. Resumindo:
preservar e melhorar a floresta, o berço de muitas espécies vegetais e animais
e da qualidade do ar; cuidar dos ribeiros, rios, lagos e águas subterrâneas, o
sangue e a linfa da vida; amar a poesia, alimento da alma, a força para
encetarmos o caminho que conduz ao sentido mais profundo da própria vida.
Maria Amélia de
Vasconcelos
Texto publicado no
jornal da S. C. M. do Cartaxo.
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