28 março 2015

TRIÂNGULO VITAL

Meados de março, um tempo atmosférico risonho, com anúncios de primavera a pedirem roupas mais leves de dia, porque, de noite, o friozinho continua, na medida certa, como manda o calendário.

Este terceiro mês do ano concentra muitos «dias de». Já se comemorou o Dia da Mulher que, infelizmente, ainda faz  sentido destacar, tamanha é a desigualdade de género que se verifica no tratamento  menorizante, quando não desumano, de que a mulher é vítima, todos os dias, em vários pontos do globo, num qualquer ponto perto de nós.

O Dia do Pai, 19 – dia de São José – homenageia os homens que geraram amor e gratidão naqueles que criaram e educaram, sejam, ou não, pais biológicos.  Quando  o não são, e dão exemplos de vida e de amor, mais merecedores, ainda, de serem lembrados com carinho.

No próximo dia 21 começa oficialmente a primavera ( se ela quiser, bem entendido). Para o mesmo dia estão  marcadas  duas comemorações:  o Dia Mundial da Floresta e o Dia Mundial da Poesia.  Temas  tão  díspares, na mesma data? Pode parecer que sim, à primeira vista. No entanto, os conceitos  andam ligados através da origem semântica da palavra «poesia»  que significa «a criação, o fabrico, a invenção». Mas, então, a floresta pode ser criada, fabricada, inventada? A resposta é sim. O  homem  que  desmatou  vastas áreas sem saber que punha em risco a biodiversidade e o equilíbrio natural, ou, já sabendo do alcance negativo dessas ações, tem persistido em as manter, a troco de vantagens económicas imediatas e egoístas, é chamado, em nome do bem comum, à reinvenção da floresta, com as espécies autóctones, plantadas e cuidadas de acordo com as diretivas internacionais elaboradas cientificamente. Há acordos firmados entre países nesse sentido, alguns cumpridos ou em vias de cumprimento, outros ignorados, porque não são lucrativos a curto prazo. A percentagem das áreas desmatadas tem vindo a cair, mas de forma tímida, ainda. É um primeiro passo do esforço empreendido pela ONU que criou esta comemoração em 1971, adotada, desde 1972 em muitos países. Até ao final do século XX multiplicaram-se as campanhas esclarecedoras que começam agora a produzir alguns resultados.

No dia 22, o dia seguinte, comemora-se o Dia Mundial da Água, também uma iniciativa da ONU, de 1992, visando incutir nos habitantes do planeta em geral, e nos decisores políticos, em particular, a ideia de que a água potável – aquela que o ser humano pode usar na sua alimentação – é um bem muito escasso e que tem de ser bem gerido e acautelado. Há populações que morrem à fome por não terem água: Em consequência, emigram massivamente em busca do que lhes falta. Deslocam-se nas mais degradantes condições, invadindo outras regiões onde, quase sempre, são  mal  acolhidas. As campanhas assentam na ideia humanitária de que o direito à água é o direito à vida. De toda a água existente na Terra, apenas 0,008% é potável. Esta diminuta percentagem mostra bem o cuidado que tem de ser posto neste bem, que é preciso que chegue a todos e que não pode ser detido apenas por alguns.

Nos dias 21 e 22 estamos a comemorar um triângulo de interesses vitais e de benfazejas intenções que tocam a todos. Resumindo: preservar e melhorar a floresta, o berço de muitas espécies vegetais e animais e da qualidade do ar; cuidar dos ribeiros, rios, lagos e águas subterrâneas, o sangue e a linfa da vida; amar a poesia, alimento da alma, a força para encetarmos o caminho que conduz ao sentido mais profundo da própria vida.

Maria Amélia de Vasconcelos

Texto publicado no jornal da  S. C. M. do Cartaxo.

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