25 setembro 2010

CREPÚSCULO

Nem o tempo para uma prece
entre o círculo de luz crua
e o véu crepuscular
avançando em tropel
sobre o espelho do mar.

No cimo do morro
ainda o sol a pique
sem um aviso de sombra
nem um sussurro de brisa
que fique como sinal.

Nada para anunciar
o cenário irreal:
o sol rompendo o mar
o azul afogado em fogo
sorvido até à última onda
quebrada atrás do Mussulo.

E logo se desvanece a ilha
de névoa revestida
logo se adensa e escurece.
Nem o tempo de uma prece
nem a Deus um louvor
por tamanha maravilha.

A noite se ergue inteira
feiticeira de brando rumor.
Dia e noite um só instante
mais breve que uma prece.

Quem sentiu jamais esquece.

Maria Amélia de Vasconcelos

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