27 setembro 2010

O MAR



Mar em Porto Novo
Dizemos «mar» e o som sai aberto, claro, vibrante.
A palavra é curta mas contém um universo de informação tão vasto como o próprio mar. Encerra uma pluralidade de informações para quem a pronuncia, para quem a escuta, para quem nela pensa. Serão tantas as significações quantas as vivências de cada um. É uma palavra querida para os poetas, um conceito abrangente para os filósofos, uma emoção para os artistas, um objecto de constante estudo para os cientistas, um campo de trabalho árduo para pescadores e marinheiros, um refúgio para o lazer, uma pista para os desportos…

Mar congrega amor, espanto, temor; sempre emoções fortes.
Nunca esquecerei a emoção desmedida de uma criança que, numa visita de estudo, contemplou, pela primeira vez, o mar. Ainda dentro do autocarro, de braços erguidos, clamava MAR, MAR, MAR, para depois balbuciar, recolhida, repetidamente, «mar» como se quisesse guardar para sempre aquele deslumbramento.

Este Verão voltei a conviver com o mar. Não uma daquelas visitas rápidas, de cortesia, só umas horas, o tempo de dizer «olá, estou de novo aqui, não sabes como sentia saudades…». Não, desta vez foram uns dias pausados, umas férias que permitiram uma conversa longa que era preciso pôr em dia. Conversa íntima, é claro, que não é chamada para este escrito, voltado para a realidade que fui encontrar.

O local, que tão bem conheço, recebeu muitas beneficiações: passadiços suspensos para o acesso à praia, uma forma de proteger as dunas, muitas quase planas já, devido aos abusos de quem, pelo facto de possuir um veículo «adequado», julga poder pisar a eito; mais e melhores passadeiras na praia; restauro dos apoios de praia; um posto de socorros; um passeio pedonal e uma ciclovia, ambos bem sinalizados.

Fiquei contente por ver, posta em prática, a legislação que visa proteger o ambiente e dar segurança aos utentes. Igualmente louvo o empenho autárquico na concepção dos equipamentos, bem como na sua boa conservação e limpeza. Custa muito caro manter o que foi instalado para o conforto e a segurança dos banhistas, preservando, ao mesmo tempo, a riqueza ambiental pela qual, é obrigação de todos, velar.

Há, porém, um ponto negativo que quero assinalar. Na véspera de terminarem as minhas férias, na entrada de um passadiço, entre o parque de estacionamento automóvel e o passeio pedonal, dei conta de dois pequenos escaravelhos, aos ziguezagues, tentando fazer caminho entre algo que lhes entravava o percurso. Sabem os leitores o que dificultava a vida aos bichinhos? Pois, nem mais nem menos, do que uma apreciável quantidade de beatas de cigarros, muito juntas, o que é indício da pressa, da pouca sensibilidade (ou civismo?) de um qualquer automobilista que despejou, em local protegido, o cinzeiro do seu carro, exactamente ao lado de um caixote do lixo!

Aplausos, pois, para a legislação ambiental; aplausos para a autarquia que a cumpre. Lamentavelmente, um olhar de amarga descrença sobre os nossos contemporâneos que ainda não entenderam que a Terra é a nossa casa comum. É preciso continuarmos a insistir no discurso da protecção ambiental para que todos o oiçam, como ouvimos o canto do mar, sempre presente na nossa memória.

Maria Amélia de Vasconcelos

Texto publicado no jornal interno da S.C.da M.do Cartaxo.

Sem comentários :

Enviar um comentário